Gestação na doença falciforme ...
Na doença falciforme, a gestação é uma situação de risco materno-fetal elevado, necessitando abordagem multidisciplinar, com o objetivo de reduzir as conseqüências danosas da anemia hemolítica crônica e da vaso-oclusão, típicas da doença.A gestação na doença falciforme representa uma situação de risco materno-fetal, independente do genótipo (SS, SC ou S-ß-Talassemia). A gestação pode agravar a doença, com piora da anemia e aumento da frequência e gravidade das crises dolorosas e das infecções. Por outro lado, a doença falciforme pode influenciar desfavoravelmente a evolução da gestação. Serjeant, em um estudo de gestantes jamaicanas com anemia falciforme, revelou que apenas 57% das gestações evoluíram bem, com recém-nascidos vivos, comparados com 89% nos controles, sendo o abortamento espontâneo a maior causa de perda fetal no grupo estudado.As gestantes com anemia falciforme estão sob maior risco de desenvolver parto prematuro, sendo que 30% a 50% evoluem para o parto antes de completar 36 semanas de gestação. A idade gestacional média na ocasião do parto é de 34 semanas nesses indivíduos. A causa mais comum de morbidade na gestação da doença falciforme são as crises dolorosas, além de outras complicações como infecções pré e pós-parto (especialmente a pielonefrite e as pneumonias), piora da anemia, restrição do crescimento fetal, parto prematuro, natimortalidade, abortamentos espontâneos, agravamento das lesões ósseas e da retinopatia, baixo peso ao nascimento e pré-eclâmpsia. As complicações ocorrem com maior freqüência no terceiro trimestre da gestação, tanto nas pacientes SS quanto nas SC. Sempre que possível, os fatores precipitantes mais freqüentes das crises álgicas devem ser afastados, como desidratação, exposição ao frio, exercícios físicos extenuantes e stress.A redução na morbidade e mortalidade feto-maternas em gestantes com doença falciforme tem sido relatada por diversos autores, sendo atribuída a melhorias no cuidado geral dispensado a essas pacientes.O acompanhamento dessas doentes por equipes multidisciplinares e a adoção de medidas como a pesquisa sistemática de hemoglobinas anormais entre as gestantes em locais com incidência elevada do gene da hemoglobina S, o cuidado pré-natal criterioso, a realização regular de exames ultra-sonográficos para acompanhar o desenvolvimento fetal, a instituição de medidas educativas para as pacientes, incluindo orientação nutricional, com o objetivo de estimular o auto-cuidado, o uso regular de ácido fólico, a capacitação das equipes de saúde visando disseminar o conhecimento sobre a doença e seu manejo correto, além do acesso das pacientes ao aconselhamento genético, podem contribuir para a redução da morbidade e mortalidade materno-fetais em gestantes com a doença falciforme.
Extraído da
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